Sonata

IMGLion Ao contrário da “Cantata” (“cantare” – “cantar”) composição vocal, a “Sonata” (do latim “sonare” e em português “soar”) refere-se à música instrumental.
As primeiras composições não tinham forma definida, sendo escritas para solistas de instrumentos de sopro ou cordas que eram acompanhados do baixo contínuo através do “Cravo” (com a mão esquerda fazendo o “baixo”) e da “Viola da Gamba” ou do “Fagote”.
A segunda fase da “Sonata” surgiu em fins do sec. XVII e início do sec. XVIII. Era a designada “Sonata monotemática”, cujas três partes eram constituídas da seguinte forma:
1 – Exposição do tema com modulação para o tom vizinho, quando, então, se realiza a cadência.
2 – Imitações do tema com inflexões modulantes, seguindo-se para o tom principal.
3 – Reexposição do tema sem nenhuma modulação, havendo cadências que “asseguram” o tom original.
Violinistas italianos exerceram papel preponderante nessa fase da evolução da “sonata”: Corelli, Tartini, Vivaldi, Veracini e outros.
Esse modelo de “sonata” vamos encontrar, também, em composições de franceses como Leclair e Senaillé; nas de Purcell na Inglaterra e nas de Haendel e Bach na Alemanha.
No período barroco surgiram dois tipos de sonata: a “Sonata de Câmera” e a “Sonata de Chiesa”.
A “Sonata de Câmera” com quatro partes: um prelúdio normalmente em andamento moderado, uma dança rápida, uma dança lenta e uma dança muito rápida (quase sempre, utilizava-se as mesmas danças presentes nas suítes) eram tocadas, principalmente, nas cortes.
A “Sonata de Chiesa” possui, também, quatro partes: um movimento lento, um rápido, um muito lento e termina com um muito rápido. Por serem executadas nas igrejas (chiesa em italiano), era evitado o uso de danças.

Diz-se que Domenico Scarlatti foi o iniciador da terceira fase da “Sonata”, por ter sido ele quem primeiro atentou para a cadência no tom da modulação final da primeira parte, delineando um motivo rítmico, ainda que sem definição melódica, que seria a origem do segundo tema (elemento básico da “Sonata Clássica”). Coube, porém, a Carl Philipp Emanuel Bach (filho de J. S. Bach) a iniciativa de realizar este novo modo de “sonata”, criando, decisivamente, um segundo tema com características próprias e oposto ao primeiro. A existência desses dois temas opostos exigiu a criação de um elemento de ligação entre eles, denominado de “ponte”. Passou, então, a “sonata” a ser “Sonata bitemática” com o seguinte esquema no seu primeiro movimento que é, quase sempre, em andamento “allegro”:
(Introdução), Tema 1 (A), Tema 2 (B) – desenvolvimento – A' B' (coda).
1 – Exposição do primeiro tema (A); “ponte” com inflexão modulante, modulando para o tom vizinho (geralmente o da 5ª superior - dominante), onde é apresentado o segundo tema (B).
2 – Desenvolvimento temático com fragmentação, sobreposição, combinações rítmicas e melódicas e inflexões modulantes indo para o tom principal.
3 – Reexposição do primeiro tema (A); “ponte” e segundo tema (B) no tom do primeiro e cadências.
OBS.: É comum existir uma introdução antes da exposição, e uma “coda” depois da “reexposição”.
Esta é a “Sonata Clássica” que no “classicismo” era destinada a instrumentos solistas, em geral o piano, possuindo, geralmente, três movimentos.
Quando os músicos falam de “forma-sonata”, eles estão se referindo a esse tipo de sonata.
2º movimento – em andamento lento e em forma de variações, é um A-B-A
3º movimento – em andamento allegro ou scherzo (como em Beethoven), é, geralmente, na forma de rondó.
No caso das sonatas com quatro movimentos, a estrutura era:
1º movimento – Idem ao já exposto.
2º movimento – Idem ao já exposto.
3º movimento – em andamento allegro moderato é um movimento dançante – minueto *
4º movimento – em andamento allegro é o Finale com caráter enérgico e conclusivo.
Fica claro que essa estrutura era modificada de acordo com o compositor.
Das danças das “Suítes” desapareceu o caráter, permanecendo, apenas, o movimento como expressão de sua estética.
A maioria dos gêneros musicais desse período, como a sonata propriamente dita, o concerto, a sinfonia, o quarteto de cordas e o divertimento têm pelo menos algum movimento em forma-sonata.
Os principais compositores de “sonata-clássica” foram:
Haydn – que, assim como fez com a “sinfonia” e com o “quarteto”, contribuiu, valiosamente, para a qualidade estética da “sonata”.
Mozart – que aumentou sua significação expressiva e formal.
Beethoven – que, com a sua genialidade construtiva, levou ao apogeu a sonata, aumentando o número de movimentos de três, como em geral acontecia, para quatro, introduzindo neles uma quantidade expressiva de novos elementos técnicos e preenchendo-os com um rico conteúdo emocional. Tão marcante foi a sua contribuição para a “forma-sonata”, que as suas 32 “sonatas para piano” constam na História da Música como a mais extraordinária expressão dessa forma musical.
Depois dele, nem mesmo Mendelssohn, Schumann e Chopin, apesar de atraídos pelo gênero, acrescentaram algo novo à “sonata” e, segundo algumas opiniões, tampouco “conseguiram conciliar nas suas sonatas as exigências construtivas da forma clássica com as invenções expressivas do seu gênio lírico”.
Foi só em Liszt que notamos uma nova contribuição à “forma-sonata”. A sua “Sonata em Si menor” construída como uma unidade indivisível, parte do tema que se transforma aos poucos, havendo uma interpenetração dos diferentes andamentos.
A estrutura da “sonata” permaneceu como principal estrutura de composição até meados do século XX.
(colaboração de Cel Costa Pinto)