Sinfonia -

 Beethoven                     A semântica da palavra “Sinfonia” é das mais intrigantes da história da música. Enquanto os gregos, primeiramente, usaram esse vocábulo para designar o sentido de “consonância” que, para eles, só era produzida pelos intervalos de quarta, quinta e oitava, no final da Renascença a palavra “sinfonia” era ligada à “polifonia”, sendo uma designação opcional para as formas instrumentais polifônicas como a “canzona” e “fantasia”. Já no período barroco era empregada para classificar um tipo de sonata, mais especialmente, a “sonata trio”. Mais adiante, porém ainda no Barroco, o vocábulo foi usado para identificar um “prelúdio instrumental” e, pouco a pouco, no final do sec. XVII, adentrando pelo sec. XVIII, foi-se estabelecendo o costume de designar, como “sinfonia”, as peças que serviam de “prelúdio”, “interlúdio” e “poslúdio” das grandes formas vocal / instrumental (Óperas, Oratórios e Cantatas).
Jean-Baptiste Lully (França) foi responsável pelo significante impulso na direção da “sinfonia orquestral” com as “aberturas francesas” de suas óperas que eram, sempre, de um só movimento, usualmente, na forma A-B-A, sendo a seção “A” uma introdução lenta, seguida da “B” em um “allegro fugado” e, novamente, a “A”, uma “coda” lenta.
Depois dele, encontramos como peça introdutória – prelúdio – a sinfonia de três movimentos com o primeiro movimento rápido, o segundo lento e o terceiro rápido. Esse tipo tornou-se modelo de “abertura” de “ópera italiana”. As diversas “aberturas” das óperas de Alessandro Scarlatti (Itália) são modelo das “aberturas italianas”.
Esse tipo de “sinfonia italiana” (com três movimentos) começou a ser composta como uma obra de “Concerto independente” e sem solistas, a exemplo das de A. Vivaldi que tanto eram “sinfonia independente” de três movimentos (não muito diferente de seus “Concertos”) quanto “sinfonias” do mesmo tipo, que eram “prelúdios” para as suas Óperas.
Esse conceito de “sinfonia italiana” de três movimentos, como composição orquestral independente, subsistiu até Haydn e Mozart que compuseram as suas primeiras sinfonias nesse formato.

Em todos os lugares aparece essa nova forma de expressão musical, cada vez mais rica e bonita e, apesar de Haydn ter sido considerado, durante muito tempo, o criador do gênero, sabe-se que compositores contemporâneos seus como Gossec, J. Stamitz, Monn e Wagenseil trouxeram inegável e valiosa contribuição à “sinfonia”. Mas, é ponto pacífico em musicologia que todos eles foram precedidos por Giovanni Battista Sammartini que teve sua primeira sinfonia orquestral executada em Milão no ano de 1734.
Na verdade, não há um inventor da “sinfonia”. Haydn, apenas, foi quem cristalizou as experiências dos seus antecessores e, realizando uma fusão entre a sinfonia italiana de concerto e a abertura/suíte ao modo francês, pegou os três movimentos de uma sinfonia e inseriu um quarto movimento entre os dois últimos movimentos do modelo italiano. Este novo movimento era um minueto (dança) que, até então, fazia parte das suítes e que, a partir de Beethoven, foi substituído pelo “scherzo”. Haydn, também, usou alguns aspectos da abertura no estilo francês e do que era a forma sonata naqueles dias. Dessa maneira Haydn introduziu a possibilidade de começar como uma lenta introdução o primeiro dos quatro movimentos desse novo modelo. Surgia, então, de uma maneira mais ou menos definitiva, a sinfonia em seu aspecto formal tendo, Mozart e Beethoven, sucedido Haydn nessa tarefa de formação da “Sinfonia Clássica”. Sendo considerados os seus máximos representantes, cada um imprimiu, nela, a sua marca de genialidade.
O esquema da “Sinfonia” ficou, de um modo geral, composto de quatro movimentos com a seguinte estrutura:
Primeiro movimento: Escrito na “forma sonata” que inclui três divisões básicas: 1 - a exposição (apresentação dos temas “A” e “B”); 2 - o desenvolvimento dos temas (com utilização de recursos como as modulações, e a dinâmica); 3 - a reexposição (repetição dos temas – “A” e “B” – apresentados na exposição, mas, com algumas modificações técnicas e cadências).
Segundo movimento: Andamento de tempo lento, que pode recorrer à estrutura da sonata ou a outras formas como, por exemplo, o rondó ou as variações.
Terceiro movimento: andamento composto por “minueto” e “trio” ou por “scherzo” e “trio”, em que o tempo é moderadamente rápido.
Quarto movimento: Escrito segundo a forma do “rondó” ou, por vezes, da “sonata” e com o tempo rápido.
Entrando no “Romantismo” não encontramos, mesmo entre compositores mais notáveis como Mendelssohn, Schubert e Schumann, nenhuma contribuição renovadora à forma. Somente, H. Berlioz, com o seu jeito inovador, conduz o gênero num sentido diferente da “Sinfonia clássica” já despontado, todavia, em Beethoven: A “Sinfonia Programática” que vem a desencadear-se no “Poema Sinfônico” de Liszt e seus seguidores – Camille Saint-Saëns, César Franck, B. Smétana, A. Dvorák, Richard Strauss, Vincent d’Indy e outros. Essas duas criações são legados importantíssimos no âmbito da música orquestral do sec. XIX.
A “Sinfonia” continuou a existir, sim, mas, incorporada explícita ou implicitamente à “Sinfonia Programática” com exemplos como Liszt e suas “Sinfonia Fausto” e “Sinfonia Dante”, Tchaikovsky, Mahler, Scriábine ou, então, ao modelo de Beethoven, formando-se o “neoclassicismo” com Brahms, Bruckner, Anton Rubinstein, Dvorák.
No sec. XX, não podemos dizer que essa forma musical tenha tido a excelência das criações dos sec. XVIII e XIX, mas, encontramos nessa época, “sinfonistas” em todas as partes do mundo como Sibelius na Finlândia; Vaughan Williams na Inglaterra; Milhaud na França; Prokofieff e Shostakovitch na Rússia; Hindemith na Alemanha; Copland nos Estados Unidos; Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e CláudioSantoro no Brasil. Por outro lado, compositores famosos desse mesmo século como Debussy, Ravel, Bartok, Schönberg, Stravinsky, Falla e outros tantos, não cultivaram nas suas atividades, ou só excepcionalmente, a “sinfonia”.

Algumas Sinfonias, Sinfonias Programáticas e Poemas Sinfônicos :

Joseph Haydn:
Sinfonia nº 45, "Do Adeus"
Sinfonia nº 48, "Maria Teresa"
Sinfonia nº 92, "Oxford"
Sinfonia nº 94, "Surpresa"
Sinfonia nº 100, "Militar"
Sinfonia nº 101, "O Relógio"
Sinfonia nº 103, "O Rufar dos Tambores"
Sinfonia nº 104, "Londres"

W. Amadeus Mozart:
Sinfonia nº 38, "Praga"
Sinfonia nº 39
Sinfonia nº 40
Sinfonia nº 41, "Júpiter"

Ludwig van Beethoven:
Sinfonia nº 3, "Heróica"
Sinfonia nº 5, "Do Destino"
Sinfonia nº 6, "Pastoral"
Sinfonia nº 7, "Movimento"

Felix Mendelssohn:
Sinfonia nº 4, "Italiana"

Franz Schubert:
Sinfonia nº 8, "Inacabada"
Sinfonia nº 9, "A Grande"
Robert Schumann:
Sinfonia nº 3, "Renana"

Franz Liszt:
Sinfonia “Fausto”
Sinfonia “Dante”
Johannes Brahms:
Sinfonia nº 4

Bedrich Smétana:
Má Vlast (Minha Pátria)

Antonin Dvořák:
Sinfonia nº 9, "Do Novo Mundo"

Dmitri Shostakovitch:
Sinfonia nº 5

Henryk Górecki:
Sinfonia nº 3

Gustav Mahler:
Sinfonia nº 1, "Titã"
Sinfonia nº 2, "Ressurreição"
Sinfonia nº 6, "Trágica"
Sinfonia nº 8, "Sinfonia dos Mil"
(colaboração de Cel Costa Pinto)