Lied
Lied, com seu respectivo plural Lieder, significa canção no idioma alemão. Está ligado à literatura, mais precisamente, à poesia. Surgiu no século XIII, vindo a ganhar força expressiva com Schubert (1797-1828), na forma de declamação melódica com acompanhamento instrumental, em que o solista e o acompanhante desempenham papéis, mutuamente, interdependentes na comunicação do conteúdo emocional da poesia. A música alemã do século XIX tinha sido marcada por um movimento literário chamado “Sturm und Drang” (tempestade e ímpeto). Este movimento, que está situado entre 1760 e 1780 e que teve como principais representantes Goethe e Schiller, foi uma reação ao classicismo francês, que possuía grande influência na Alemanha e na cultura européia em geral. Os Stürmer eram contra o racionalismo vindo do iluminismo, as poesias baseadas na rígida métrica, e a todo modo de vida formalizado da sociedade do século XVIII. Defendiam uma poesia livre e espontânea. Contudo, foi no início do século XIX, especificamente a partir do desenvolvimento musical que o compositor Franz Schubert deu à canção alemã, que o Lied toma características próprias e forma-se como gênero musical .
Nos finais do século XVIII os traços românticos começaram a manifestar-se no "Lied" alemão. Foi nessa altura que Johann R. Zumsteeg (1760-1802) se distinguiu num novo tipo de canção, a "balada". Este gênero poético foi cultivado na Alemanha à imagem das baladas inglesas e escocesas adquirindo uma popularidade crescente a partir de 1774. A maioria delas eram poemas longos, onde a narrativa e o diálogo alternam numa história romântica e incidentes sobrenaturais. Um dos mais prolíficos compositores de baladas foi Carl Loewe (1796-1869). As baladas românticas exigiam um tratamento musical muito diferente do Lied. As suas maiores dimensões requeriam uma variedade também mais extensa de temas e texturas, além do que, os estados de espírito contrastantes e a evolução da história tinha de ser captados e sublinhados pela música. A influência da balada contribuiu, assim, para alargar a concepção do Lied, quer na forma, quer no âmbito e na força do conteúdo emotivo. No início do século XIX o Lied já se transformara numa forma digna das mais altas capacidades de qualquer compositor.
OS LIEDER DE SCHUBERT
Schubert escreveu 600 “lieds” em seus 31 anos de vida, a maior parte musicando poemas de Goethe e Heine. São importantes os ciclos de “lieds”: “A bela Moleira”, “Viagens de Inverno” e “O Canto do Cisne”. Muitas das suas melodias têm a simplicidade e o despojamento da música popular como, por exemplo, "Heidenöslein, "Der Lindenbaum", "Die Forelle"; outras são percorridas por uma suavidade e melancolia romântica como "Am Meer","Der Wanderer," “Du bist die Ruh”; outras são declamatórias, intensas e dramáticas como "Aufenthalt", "Der Atlas", "Die junge Nonne", "An Schwager Kronos”; em suma, não há estado de espírito ou mudança de sentimento que não encontre uma expressão perfeita nas melodias de Schubert. Igualmente variados e engenhosos são os acompanhamentos de piano dos Lieder de Schubert. Muitos Lieder de Schubert são em forma estrófica, quer com repetição literal da música em todas as suas estâncias (Litanei), quer com uma repetição sujeita a ligeiras variações (Du bist die Ruh). Schubert foi buscar os seus textos nas obras de muitos poetas diferentes. De Goethe musicou nada menos que noventa e cinco poemas e escreveu cinco composições solísticas diferentes sobre "Nur wer die Sehnsucht Kennt", do romance Wilhelm Meister. Encontramos alguns dos mais belos Lieder de Schubert em dois ciclos sobre poemas de Wilhelm Müller, "Die schöne Müllerin” (A Bela Moleira - 1832) e "Winterreise" (Viagem de Inverno - 1827). "Schwanengesang" (O Canto do Cisne - 1828), que não foi, originalmente, concebido como um ciclo, mas, acabou por se, postumamente, publicado como tal, inclui seis canções sobre poemas de Heinrich Heine.
A tradição do gênero firmou-se com Schumann (1810-1856), sucessor importante de Schubert, entre os muitos compositores que escreveram Lieder. Destacam-se os ciclos “Amor e Vida de Mulher” sobre versos de A. von Chamisso; “Amor de Poeta”, sobre versos de Heine e “Lieds de Eichendorff”, sobre versos de Eichendorff. Produziu mais de cem Lieder, incluindo os dois ciclos.
OS LIEDER DE BRAHMS
Principal sucessor de Schumann, Johannes Brahms (1833-1897) encontrou no Lied uma das suas formas de expressão preferidas. Ao todo escreveu 260 Lieder ao longo de sua vida. Escreveu também arranjos de muitas canções populares alemães, incluindo um conjunto de 14 publicadas em 1858 (dedicadas aos filhos de Robert e Clara Schumann) e 49 publicadas em 1894 .
Entre todos os Lieder alemães não encontramos melhores canções de amor do que alguns dos romances do ciclo "Magelone", Opus 33 sobre poemas de Ludwig Tieek e ainda peças como "Wie bist du meine Königin" e "Meine Liebe ist grün".Talvez os maiores e mais típicos lieder brahmsianos sejam aqueles cujo tema é uma reflexão sobre a morte, como por exemplo "Feldeinsamkeit", "Immer leiser wird mein Schlummer", "Auf dem Kirchhofe" e "Der Tod,das ist die kühle Nacht", bem como as quatro canções sérias, Opus 121-1896 sobre textos bíblicos, considerada a grande obra-prima dos últimos anos de vida de Brahms.
Outros compositores como Mahler (1860-1911) e Richard Strauss compuseram “lieds” com acompanhamento orquestral, como as “Canções de um Viandante”, de Mahler, com texto dele mesmo; “Canções da Terra”, com texto de Bethge, inspirados em antigos poemas chineses e as “Canções sobre as Crianças Mortas”, com versos de Friedrich Rückert (1788-1866), de extrema melancolia