Música de Câmara Italiana
No século XVII, a escola mais importante de música de câmara italiana, estava centrada na igreja de S. Petrônio de Bolonha, onde Maurizio Cazzati, em 1657, era diretor musical. Cazzati, ao contrário dos compositores italianos anteriores e até dos compositores alemães contemporâneos de sonatas solísticas, evitava a exibição da técnica do executante e os "efeitos" especiais no violino. A sua abordagem séria e contida é a característica fundamental de toda a escola bolonhesa.
Um exemplo perfeito da arte musical dessa época, são as sonatas para violino de Arcangelo Corelli (1653-1713), conhecido não só como compositor, mas também, como executante. Estudou em Bolonha e assimilou a arte dos mestres bolonheses. Dentre suas obras destacam-se:
Op. 1 – doze sonatas trio (sonata de chiesa) publicadas em 1681 pela primeira vez;
Op. 2 – onze sonatas trio de câmara e uma chaconne, publicadas em 1685;
Op. 3 – doze sonatas trio, 1689;
Op. 4 – doze sonatas trio de câmara, 1695;
Op. 5 – doze sonatas a solo (seis de chiesa, cinco da câmara, e uma série de variações) 1700;
Op. 6 – doze concerti grossi, publicados em 1714, mas talvez, compostos antes de 1700, alguns, provavelmente, já em 1682.
As sonatas trio de Corelli são o expoente máximo de música de câmara italiana de finais do século XVII. Corelli sujeitou os dois violinos das suas sonatas trio às limitações técnicas extremas: O executante nunca devia ir além da terceira posição e as notas mais graves não eram muito utilizadas. Além disso, evitavam-se as escalas rápidas e cordas duplas.
Muitas das sonatas trio de chiesa de Corelli constam de quatro andamentos na ordem: lento – rápido – lento - rápido, ordem análoga dos quatro andamentos de muitas cantatas deste período. As sonatas de câmara de Corelli, tanto para trio como para solista, começam, geralmente, com um prelúdio, seguindo-se duas ou três de danças convencionais da suíte, pela ordem normal, podendo a Gigue final ser substituída por uma Gavotte.Todos os andamentos das sonatas trio de Corelli são na mesma tonalidade, o que era característico do século XVII.
Tal como todos os compositores do seu tempo, o pensamento musical de Corelli era, essencialmente, contrapontístico, mas, dentro de uma estrutura harmônica tonal definida pelo baixo contínuo.
Diferente das sonatas trio, as sonatas para solistas de Corelli, dão-nos uma idéia bastante clara do que Corelli esperava do domínio da técnica do violino, de seus alunos. Embora nunca seja ultrapassada a terceira posição, há difíceis cordas duplas e triplas, escalas rápidas, arpejos, cadências e passagens semelhantes a estudos em moto perpétuo.
O seu ensino criou as bases da maior parte das escolas violinísticas do século XVIII. Alguns contemporâneos podem tê-lo superado em "exibições", mas, nenhum na compreensão das possibilidades "cantabile" do seu instrumento, nem no bom gosto com que evitou as exibições de virtuosismo que não fossem justificadas pelo conteúdo musical.
A peça que ganhou maior popularidade é a sua Op. 5. O tema é a Follia, também, conhecida como “Les Folies d'Espanha”, uma melodia de origem portuguesa, que data do início do sec. XVI - um tema predileto para variações durante todo o século XVII.
O mais importante discípulo de Corelli foi Francesco Geminiani (1687-1762), autor de "The Art of Playng on the Violin” (A Arte de Tocar Violino). Suas sonatas solísticas e seus concertos grossos baseiam-se no estilo de Corelli.
Os concertos grossos de Haendel, também, se apóiam na abordagem que Corelli faz deste gênero musical.
A tradição corelliana também se encontra nas composições de dois famosos violinistas do século XVIII: Francesco Maria Veracini (1690-1750) e Pietro Locatelli (1695-1764), este, discípulo de Corelli.