Jean-Baptiste de Lully
De origem italiana, Giovanni Battista Lully foi um músico de singular personalidade na corte de Luis XIV. Mestre do barroco francês, hábil bailarino, violinista e homem de teatro, foi o criador da Ópera Francesa .
Lully, filho de uma família modesta, nasceu em Florença em 28 de novembro de 1632. Pouco se sabe de sua infância.
Relatos mais antigos falam de Lully, aos 14 anos, como camareiro na casa de uma senhora chamada Montpensier, filha do duque de Guisa, que gostava de se exercitar na língua italiana.
Aos 20 anos, sabendo dançar muito bem e tocar violino, ele ingressa no Ballet da Corte e em 1653 é dispensado. Lully, então, se dedica ao estudo da composição, mas, como autodidata. Possuindo um instinto infalível para captar o gosto do momento e uma grande habilidade em eleger os meios para adaptar-se à moda rapidamente, descobre, no Ballet, um espetáculo de crescente sucesso na França. Não há ballet que Lully não participe: É ator, bailarino, compositor e coreógrafo. Em quatro anos aprende todos os truques e segredos necessários para agradar ao público.
Começa a fazer parte, também, da célebre orquestra de Violinos do Rei – “24 Violons” – e acaba por fundar, depois, um conjunto menor, a orquestra “Les Petits Violons" que, em pouco tempo, sob sua direção, alcança e supera em maestria a "Grande Bande du Roy", e em 1661 é nomeado "Intendente da Música do Rei".
Durante o período de sua colaboração com Molière, entre 1663 e 1671, trabalha com, não menos que, onze comédias que, pelo emprego da música e de danças, se chamariam de “Comédie-Ballet”. Dessa sua colaboração nascem: “La Grotte de Versailles”; “Le Mariage Forcé” (1664); “L’Amour Médecin” (1665); “Georges Dandin” (1668); “Monsieur de Pourceaugnac” (1669); “Le Bourgeois Gentilhomme” (1670).
Do encontro de Lully com o poeta Pierre Perrin (1620 ?-1657) e o músico Robert Cambert (1628 ?-1677) tem-se início um processo de desenvolvimento do ballet até a ópera. A “Pastoral de Issy” (1659) foi a primeira ópera em língua francesa nascida de sua colaboração; em 1669, ele obtém do rei o privilégio de poder representar óperas em língua francesa e, dois anos depois, em 2 de março de 1671, estréia em Paris “Pomona" com tanto sucesso que foi apresentada 146 vezes. Lully consegue o privilégio de representar óperas musicais em francês e Luis XIV lhe concede o monopólio absoluto sobre toda música teatral francesa. Aos 40 anos e nacionalizado francês, Lully contava com um poder que nenhum outro músico alcançaria jamais.
A "Academia Real de Música" se constitui num novo teatro. Em 1673 com a morte de Molière, e de seus cômicos desalojados da sala do palácio real, ela se torna a sede da Academia. O “Ballet de Corte” e a “Comédie-Ballet” estão com seus dias contados. Depois de "Les Fêtes de L’Amour et de Bacchus" (1672), nasce a nova Ópera Musical Francesa: A "tragédia lírica". O teatro trágico é a grande moda no momento e sustenta suas raízes numa tradição que sempre esteve viva na França.
A tragédia lírica de Lully não é mais que uma hábil superposição da música, montagem e cenografia coreográfica do “Ballet de Corte” e da “Comédie-Ballet” com um corpo e espírito da tragédia literária. E, para isso, ele precisava de um libretista e o encontra na figura do dramaturgo Philippe Quinault (1635-1688).
Nasce, agora, sua criação de maior força e originalidade: O “Recitativo”. O recitativo lulliano foi comparado por alguns com o de Monteverdi, sobretudo em “Orfeu”, mas entre eles, há uma diferença fundamental: Monteverdi interrompe, de vez em quando, a recitação silábica da poesia para começar o canto nas árias, enquanto Lully cria a melodia, diretamente, a partir do musical declamado, recitado. Nas óperas de Lully, as verdadeiras árias são sempre muito poucas, às vezes, não mais que três ou quatro e é a declamação que invade e sustenta toda a ópera.
Lully descobre por último, os inúmeros recursos da orquestra. Na ópera “Proserpine” (1680), o recitativo é acompanhado pela orquestra com variações rítmicas e melódicas.
Com Lully nasce a Ouverture Francesa , breve fragmento orquestral que precede e serve de introdução ao drama .
Como primeiro fruto da colaboração de Lully com o dramaturgo Quinault, está a ópera “Cadmus et Hermione” (1673).Seguem-se, depois, outras óperas: “Alceste ou Le Triomphe d’Alcide” (1674) e “Thésée” (1675) mas, é em “Atys” (1676) a primeira afirmação do recitativo. “Isis” (1677),
chamada a “ópera dos músicos”, impressiona pela extraordinária força da intervenção instrumental. Em “Psyché” (1678) e “Bellérophon” (1679) não consta colaboração de Quinault . Mais tarde, em “Proserpine” (1680) aparece o recitativo acompanhado da orquestra: “Persée” (1682), “Phaeton” (1683) e “Amadís de Gaule” (1684) onde aparece uma volta, momentânea, das formas musicais do tipo italiano, com ampla margem de desenvolvimento melódico nas árias.
Com “Roland” (1685) e “Armide ” (1686), Lulli cria suas melhores óperas, nas quais o recitativo é um contínuo e afortunado fluir melódico sustentado pela orquestra.
Poucos meses antes de morrer, Lully conclui a pastoral “Acis e Galatée” (1686).De sua produção sacra constam Motetos, Miserere, Te Deum, Dies Irae, De Profundis entre outros.
Em uma execução da orquestra durante a apresentação do seu “Te Deum”, entusiasmado, bateu em seu pé com o bastão de regência, surgindo daí, uma ferida que gangrenou, havendo, então, a necessidade da amputação do pé. Com as complicações oriundas dessa intervenção, veio a falecer em poucas semanas no dia 22 de março de 1687 aos 55 anos.
Lully foi de fundamental importância para a tragédia lírica francesa, sendo o seu fundador.