As Danças nas Suítes de Bach

Como conceito musical, “Suíte” designa uma série, uma sucessão de peças que são, antes de tudo, danças.
As danças se dividiam em duas partes porque eram tocadas duas vezes, embora, sob formas rítmicas diferentes: A primeira parte era uma “dança andada” (num andamento “moderato”) seguida da segunda parte, uma “dança saltada” (num andamento “rápido”).
Este par de danças pode ser considerado como o embrião da suíte. Naturalmente, o estilo musical das danças ia, constantemente, adaptando-se à moda de cada época e, também, à ascensão social de certas danças que, de rústicas danças camponesas, se transformaram em danças da moda nas cortes.
Os compositores, na época, não cessaram de ampliar as diferentes formas e estilizá-las, acabando, na maior parte das vezes, por tornar irreconhecível a dança original. Dessa forma, surgiu ao lado da música dançante, uma série de coleções de música puramente instrumental para ouvintes (platéia) e executantes.
O problema essencial que afetava este gênero era uma falta de coesão ao encadeamento de várias danças. Então, na França de Luís XIV, o genial compositor da corte, Lully, acabou dando à suíte sua forma definitiva e fazendo dela uma obra brilhante.
Lully criou, a partir do antigo "ballet de cour" (dança da corte), uma forma de ópera, tipicamente francesa, onde o balé tinha um papel essencial. Suas óperas continham movimentos de danças os mais diversos. Estas danças de óperas eram arranjadas como suítes. Apesar de Lully nunca ter composto suítes propriamente ditas, suas danças de ópera seriam modelos para a chamada "suíte francesa". Como aquelas “suítes de ópera” de Lully eram precedidas por uma “abertura”, esta, acabou por solucionar o problema que afetava esse gênero, que era a ausência de um liame (encadeamento) lógico entre as danças. Nas primeiras óperas francesas, era comum tocarem-se movimentos instrumentais derivados do par de danças solenes: entrata = courante ou pavana = galharda. Lully combina, em suas aberturas, uma seção inicial lenta, uma seção central onde são inseridos os solos e uma seção final que retorna aos elementos temáticos do início. Para as seções, inicial e final, Lully escolhe a "allemande" e entre os dois trechos ele introduz uma sonata italiana em estilo fugato. Graças a esta idéia genial – "abertura francesa" – o movimento de introdução contrastante, ganha a forma que se conservaria durante décadas.
A construção do conjunto da obra era de uma total liberdade, tanto para o compositor, que podia inserir na suíte qualquer idéia musical, como para o intérprete, que podia organizar a sequência de movimentos de acordo com seu gosto.
A “suíte francesa” foi levada aos demais países europeus despertando especial interesse na Alemanha onde adoravam a nova música francesa. A partir da música instrumental francesa, italiana e alemã com suas formas mais importantes, constituiu-se o chamado "gostos reunidos". Encontram-se nas “Ouvertures de Bach”, que são escritas à maneira francesa, muitas características das outras tendências, reunidas numa síntese bachiana.
As peças encontradas nas Suítes de Bach, naquela época, já tinham se transformado em peças de concertos e quase nada tinham em comum com modelos dançados. Os nomes destas peças deviam, entretanto, como uma forma de descrição, indicar a proveniência de determinada dança.
 A "allemande" não aparece como parte de nenhuma das suítes orquestrais de Bach, mas, as partes lentas das quatro Ouvertures são nada mais nada menos que allemandes estilizadas.
A "courante", uma antiga dança de corte, a partir do século XVII, era empregada como movimento instrumental e não mais como música de dança. Havia duas formas: a italiana escrita em compasso 3/4 ou 3/8 (movimento rápido) e a francesa (movimento muito mais lento) notada em compasso 3/2 ou 6/4. A courante da primeira suíte é puramente francesa.
A "gavotte", originalmente uma dança de camponeses franceses, tem um caráter de vivacidade moderada, dançada, ainda hoje, em algumas regiões da França. A “gavotte” servia, frequentemente, de base a formas maiores como o “rondó”. O “rondó” da suíte em si menor é, na verdade, uma “gavotte em rondeau”. As “gavottes” que se encontram nas quatro suítes de Bach são peças moderadas e alegres.
A "bourrée", também, era uma dança popular francesa e seu tempo deve ser mais rápido que a “gavotte”.
O "minueto" que, no século XVII, se tornou uma dança de corte, se originou de uma dança popular da antiga província de Poitou,           centro-oeste francês. Era tocado, inicialmente, rápido e de modo alegre, mas, tornou-se, com o tempo, mais medido e lento.
O "Passe-pied" era um tipo de minueto mais rápido, muito popular na Inglaterra, onde ficou conhecido como paspy. O “Passe-pied” da primeira suíte de Bach é sensivelmente mais rápido que o minueto da mesma suíte.
A "Forlane", uma dança provavelmente introduzida em Veneza por sérvio-croatas, era a dança preferida dos venezianos. Uma dança em 6/4 em andamento bastante rápido.
A "sarabande", originária, provavelmente, do México ou da Espanha, era uma dança conhecida na Europa, por volta de 1600, como uma dança licenciosa e erótica.
Já na primeira metade do século XVII era dançada com selvageria nas cortes francesa e espanhola. Na Inglaterra, permaneceu por muito tempo, apenas, como uma dança fogosa e rápida. Na França, já na metade do século, graças a Lully, transforma-se numa dança de espírito amável, mais formal. Aos poucos vai se tornando cada vez mais grave e solene e com este caráter, chegou aos compositores alemães.
A "polonaise", famosa no século XVIII, é imprecisa. Era bastante conhecida e apreciada por toda a Europa como "dança polonesa" desde o século XVI. Em sua forma definitiva fica conhecida como uma dança altiva.
A "gigue", originária de uma dança inglesa popular, “jig”, praticamente, numa foi dançada no continente, sendo transformada em peça instrumental muito cedo.
Tal como a “courante”, há dois tipos de “gigue”: A francesa, com ritmo pontuado , saltado e a “gigue” italiana, com colcheias contínuas, mais virtuosística. Comum aos dois tipos é o tempo rápido e resoluto.