Música Clássica ou Música Erudita ?

Música Erudita e Música Clássica, do ponto de vista do estudo da música e não do ponto de vista global da utilização vulgar dos termos, não são, de todo, a mesma coisa. Música Clássica, em rigor, é a música composta num período específico da Música Erudita. Sim, confunde-se Música Clássica com a Música Erudita, mas, Música Clássica refere-se somente ao Período Clássico que se situa, mais ou menos, entre a metade do sec. XVIII até a metade do sec. XIX, ou seja, entre o fim da obra de Bach e o fim da obra de Beethoven enquanto que a Música Erudita é a música ocidental de todos os períodos.
Então, vejamos: A expressão “Música Erudita”, tal como ela é compreendida no âmbito musical, é o conjunto dos períodos que vão desde o medieval até os dias de hoje, e que, embora seja costume referirmo-nos a estes momentos da música como Períodos, também, chamamos-lhes, simplesmente, Música, já que a idéia de Período não se confina à música, mas, pertence a todas as artes, literaturas e filosofias. Desse modo denomina-se Música Antiga (para o Período Antigo), Música Renascentista (para o Período Renascentista ou a Renascença), Música Barroca (para o Período Barroco), Música Clássica (para o Período Clássico), Música Romântica (para o Período Romântico), Música Moderna (para o Período Moderno) e Música Contemporânea (para o Período Contemporâneo). Sendo assim, Música Clássica não é a Música Erudita, mas sim, a música do Período Clássico. E todos estes períodos apresentam características muito particulares e distintas, pelo que, usar o nome de um deles para designar todo o conjunto, é um erro em sentido estrito. O estudo da música designou a expressão Música Erudita, para deixar claro que ela não é, somente, clássica, eliminando-se, assim, todas as possíveis ambiguidades.
Surge, então, um pequeno problema. Aliás, um problema muito comum entre estudiosos: Quando há mais que uma designação expressiva para uma idéia, por qual devemos optar? Pior ainda, quando estas designações não coincidem entre si mesmas, como é o caso em que a expressão “Música Clássica” está englobada pela expressão “Música Erudita”, mas, a expressão “Música Erudita” não está englobada pela expressão “Música Clássica”. Toda a Música Clássica (do Período Clássico) é Música Erudita, mas o inverso não se aplica. Como devemos, então, proceder neste caso, quando quase toda a gente se refere à Música Erudita pela expressão Música Clássica? É a velha oposição entre o valor semântico e o valor pragmático dos termos. Se por um lado a expressão Música Clássica se refere a um período específico da Música Erudita (o seu valor semântico, o que a expressão quer mesmo dizer por si mesma), pelo outro lado, temos o uso que fazemos dela (o seu valor pragmático, a forma como a maioria se exprime).
A expressão “Música Clássica” é a que, vulgarmente, se usa para fazer referência à Música Erudita porque foi na época, imediatamente, posterior a este período cultural, que o vulgo começou a fazer referência à música dos eruditos. Portanto, a expressão Música Clássica vulgarizou-se para designar toda a Música Erudita já que foi nesta altura que ela começou a se tornar mais acessível a todos. Até então, a Música Erudita pertencia a círculos muito estreitos de algumas elites nobres e musicais. O povo em geral, só tinha acesso à música que hoje chamamos tradicional ou étnica, direcionada para a dança ou para o acompanhamento das pantomimas e de outras formas de expressão teatral popular. A expressão Música Clássica, enquanto designadora de toda a Música Erudita, pertence à formação da burguesia. Não é nada mais que a vulgarização do nome de um período da Música Erudita para designar toda ela, por um conjunto de pessoas de educação emergente sem tradições culturais eruditas. A Música Erudita evoluiu, então, como já tinha evoluído antes, e passando a ser Romântica, mas, a grande maioria continuou a chamá-la Clássica, e assim foi até hoje.
Fontes:diversos