O drama musical e a ópera no século XIX – Itália
Diferente da França e dos países do Norte da Europa, a Itália não foi muito sensível às experiências novas e radicais. As seduções do movimento romântico, no tocante à ópera, em quase nada influenciaram seus compositores. Fortemente enraizada na vida da nação, a ópera italiana do século XIX descendia de uma sólida tradição. Muito lentamente, os elementos românticos foram impregnando sua ópera e não ao mesmo tempo como na Alemanha e França.
A diferença entre a "ópera séria" e "opera buffa" foi mantida com bastante clareza até quase metade do século e os primeiros sinais de mudanças só vieram acontecer na "ópera séria". Os princípios que haviam orientado Gluck já estavam enunciados num ensaio sobre ópera de Francesco Algarotti (1712-1764) – "Saggio Sopra L'Opera in Musica" (1755) – sendo que, muitos deles, tinham sido postos em prática por Niccolo Jommelli nas óperas que escreveu para Parma, Stuttgart e Mannheim, centros que assimilavam a cultura francesa, estando, por isso, em condições de acolher uma combinação de "tragédia lyrique" e "ópera séria".
Johann Simon Mayr (1763-1845) foi o fundador da “ópera séria” italiana. Alemão de nascimento que, assim como seu antecessor Hasse, passou a maior parte da vida na Itália, conseguiu aceitação geral, através das suas obras, para muitas mudanças que Niccolo Jommelli defendera na geração anterior.
Com um dom invulgar para a melodia e também efeitos cênicos, Giacchino Rossini foi o principal compositor italiano do século XIX. Entre seus 18 e 30 anos de idade, Rossini compôs trinta e duas óperas, duas oratórias, dozes cantatas, duas sinfonias, e outras obras instrumentais. Das “óperas sérias”, temos "Tancredi" (Veneza, 1813), "Otello" (Nápoles, 1816) e "La Donna del Lago" (Nápoles, 1819). Quanto à “opéra comique”, onde Rossini se sentia mais à vontade, temos "La Scala di Seta" (A Escada de Seda – Veneza, 1812); "L'Italiana in Algieri" (A Italiana em Argel – Veneza 1813); "La Cenerentola" (A Cinderela – Roma,1817) e "La Gazza Ladra" (A Pega Ladra – Milão, 1817). "Il Barbiere di Siviglia" (O Barbeiro de Sevilha – Roma, 1816) figura entre os maiores exemplos de “opéra comique” italiana.
Em Veneza, após um pequeno fracasso de sua “ópera séria”, "Semiramide" no ano de 1823, Rossini aceita uma convite para ir a Londres e, depois, em 1824, instala-se em Paris. Em Paris, escreveu novas versões de duas das suas óperas, adaptando-as ao gosto francês e uma “opéra comique”, "Le Comte Ory" (1828) além da sua grande ópera "Guillaume Tell", sendo esta, a que mais se aproxima do romantismo.
Gaetano Maria Donizetti (1797-1848), discípulo de Johann Simon Mayr, foi um dos mais prolíficos compositores italianos da segunda metade do século XIX. Além de 70 óperas, compôs várias sinfonias, oratórias, cantatas, música de câmara, música sacra e uma centena de canções. Entre suas “óperas sérias” estão "Lucrezia Borgia" (1833); "Lucia di Lammermoor" (1835) e "Linda di Chamounix" (Viena, 1842). Na "opéra comique", "La fille du Régiment" (A Filha do Regimento – Paris, 1840) e nas “operas buffas”, "L'Elisir d'Amore" (O Elixir do Amor – 1832) e "Don Pasquale" (1843).
Vicenzo Bellini (1801-1835), considerado como o aristocrata deste período pelo seu estilo, que é de um lirismo extremamente requintado, escreveu dez óperas, todas sérias, e as mais importantes são "La Sonnambula” (1831); "Norma" (1831) e "I Puritani e I Cavalleri" (Os Puritanos e os Cavaleiros – Paris, 1835).
Nos cinquenta anos que se seguiram às óperas de Donizetti, podemos resumir a história da música italiana, em especial a ópera, a Guiseppe Verdi. Escreveu vinte e seis óperas, a primeira em 1839 e a última em 1893. Sua vida criadora pode ser dividida em três fases: a primeira culmina em "Il Trovatore" e "La Traviata" (1887) depois de "Nabucco" (1842), "I Lombardi" (1843), "Giovanna d'Arco" (1845) e "La Battaglia di Legano" (1849); sua segunda fase com "Aida" (1871) e a terceira fase "Otelo" (1887) e "Falstaff" (1893). Com exceção de "Falstaff" todas suas óperas são sérias. Na sua maioria, os temas foram adaptados pelos libretistas a partir de textos de autores romântico. De Schiller ("Giovanna d'Arco", "I Masnadieri","Luisa Miller","Don Carlos"); de Vítor Hugo ("Ernani" e "Rigoletto"); de Dumas Filho ("La Traviata"); de Byron ("I Due Foscari","Il Corsaro"); de Scribe ("Les Vêpres Siciliennes", "Un Ballo in Maschera"); de dramaturgos espanhóis ("Il Trovatore" ,"La Forza del Destino", "Simon Boccanegra"); de Shakespeare ("Macbeth"). "Aida" teve seu argumento desenvolvido a partir de um enredo esboçado por um egiptólogo francês, A.F.F.Mariette, quando foi encomendada a Verdi.