Beethoven – Música de Câmara

beethovenCom base no estilo e na cronografia, é possível dividir a obra de Beethoven em três fases sem levar em conta as obras que foram escritas em Bona, entre as quais se encontram algumas, manifestamente, influenciadas por Mozart e alguns Lieder e variações para piano.
A primeira fase vai até 1802: É o período em que Beethoven assimila a linguagem do seu tempo. Foram compostas nessa fase, os seis quartetos de cordas Opus 18 e as dez primeiras sonatas para piano (até a Opus 14).
A segunda fase vai até, mais ou menos, 1816: Nela foram compostas as sonatas para piano até a Opus 90 e os Quartetos Opus 59 (Quartetos Rasumovsky), Opus 74 e Opus 95.
A terceira e última fase: Nela, a sua música se torna mais meditativa e introspectiva e contém as últimas cinco sonatas para piano, as "Variações Diabelli", os quartetos Opus 127, 130, 131, 132, 135 e a "Grosse Fugue" (Grande Fuga) para quarteto de cordas, Opus 133 (originalmente, o "finale" da Opus 130).
Situando-se em momentos cronológicos diferentes para os diferentes gêneros, esta divisão é meramente aproximada, tratando-se apenas de uma forma mais cômoda de organizar uma reflexão sobre sua música.
AS SONATAS:
Suas obras da primeira fase são as que mais claramente revelam sua dependência em relação à tradição clássica.
As três primeiras sonatas para piano Opus 2, publicadas em Viena em 1796, traduzem bem esta influência, embora, possuam quatro andamentos em vez dos três habituais do período clássico e, além disso, nas segunda e terceira sonatas o minueto é substituído pelo scherzo, prática a que Beethoven permaneceria fiel em obras posteriores.
Na Sonata Opus 7 em Mi bemol publicada em 1797, nota-se, particularmente, a característica de Beethoven pelo tema do "largo" e o "trio minore" do terceiro movimento.
A sonata Opus 10, nº 1, em Dó menor de 1798 é uma peça bastante próxima da Sonata Pathétique, Opus 13 publicada no ano seguinte. Nesta primeira fase, podemos distinguir características harmônicas que poderão ter sido sugeridas a Beethoven pelas sonatas para piano de Muzio Clemente (1752-1832) e pelas sonatas para piano de Jan Ladislav Dussek (1760-1812) compositor de origem boêmia. Um exemplo disso é a grande sonata Opus 44, "Les Adieux" em Mi bemol maior de Dussek, publicada em 1800, que poderia ter influenciado a "Sonata do Adeus" Opus 81, composta cerca de dez anos mais tarde por Beethoven. Se algumas das características estilísticas de Beethoven se devem à escrita de Clemente e de Dussek, a sua arte de desenvolver motivos e contraponto foi, sem dúvida, elaborada a partir do exemplo de Haydn. Entre o restante de sua música de câmara da primeira fase contam-se: – Três trios para piano Opus 1; – Três Sonatas para Violino Opus 12; – Duas Sonatas para violoncelo Opus 5; – Septeto em Mi para cordas e sopros Opus 20.
Das sonatas para piano da segunda fase, escritas, aproximadamente, em 1802, destacam-se a sonata em Lá bemol, Opus 26, que inclui uma marcha fúnebre e as duas sonatas Opus 27, assinaladas pela indicação "quasi una fantasia", sendo, a segunda dessas, conhecida como "Sonata ao Luar".
Ainda da segunda fase destacam-se a Opus 53 em Dó maior (Sonata Waldstein) devido ao nome do mecenas a quem é dedicada e a Opus 57, em Fá menor, chamada "Apassionata", ambas compostas em 1804.
Após cinco anos sem escrever mais sonatas, no ano de 1809, apresenta a sonata Opus 78 em fá #maior e a semiprogramática sonata Opus 81 A, denominada "Sonata do Adeus" em três movimentos: Despedida, Ausência e Regresso, inspirada na partida e regresso a Viena de um dos seus patronos, o arquiduque Rodolfo.
A sonata Opus 90 escrita em 1814 tem dois andamentos: Allegro em Mi menor numa forma sonata e Andante em Mi maior em forma de sonata-rondó.
De sua última fase estão as cinco sonatas para piano escritas entre 1816 e 1821 e as "Trinta e Três Variações sobre uma Valsa de Diabelli”, Op. 120, escritas em 1823.
OS QUARTETOS RASUMOVSK:
Dedicados ao conde Rasumovsk, esses quartetos em número de três, Opus 59, de 1806, são os primeiros a ilustrar o modo de expressão característico do compositor nessa forma musical. Nesses quartetos a "forma sonata" toma proporções inéditas, graças à multiplicidade de temas, desenvolvimentos longos e complexos e às longas codas. Essas tendências continuaram a marcar toda a segunda fase de Beethoven sendo mais radical nos quartetos e sonatas para piano do que nas sinfonias e aberturas. Nos quartetos seguintes, o Opus 74(1809) e o Opus 95 (1810) Beethoven já está em vias de consolidar suas características em relação à forma tradicional e que viriam a assinalar os últimos quartetos da terceira fase.
Entre outras obras da segunda fase, merecem referências, também, as sonatas para violino Opus 47 (Kreutizer) e Opus 96, além do trio em Si bemol Opus 97.
Escritas em 1815, as duas sonatas para violoncelo e piano Opus 102, estilisticamente, porém, pertencem à terceira fase.
Seguiram-se em 1825 e 1826 os últimos quartetos de Beethoven, que podem ser considerados como seu testamento musical.