Francisco Mignone (1897-1986)

                    Francisco de Paula Mignone nasceu em São Paulo, em 3 de setembro de 1897, filho de italianos. Seu pai, o flautista Alferio Mignone foi seu primeiro professor de flauta, sendo Sílvio Motto o mestre pianístico até seu ingresso no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde estudou composição com Savino de Benedictis e piano com Agostinho Cantu.
                   Após quatro anos de estudo, recebeu o diploma do conservatório. A participação, desde os 13 anos, em pequenas orquestras como pianista e flautista, ajudou-o a melhor captar os ensinamentos de harmonia, contraponto e composição daquela casa de ensino.
                   Trabalhou nas orquestras de baile até os 22 anos. Neste período Mignone escreveu muita música popular, adotando, para estas composições, o pseudônimo de Chico Bororó.
                   Devido ao êxito alcançado com as suas duas primeiras obras orquestrais: o poema sinfônico Caramuru e a Suite Campestre, apresentadas em São Paulo em 1918, a Comissão do Pensionato Artístico de São Paulo concedeu-lhe, em 1920, uma bolsa para prosseguir os seus estudos em Milão, onde estudou durante dois anos com Vicenzo Ferroni. Desta época é a ópera O Contratador de Diamantes (1921), cuja Congada, peça de bailado do segundo ato, ficou célebre, sendo incluída por Richard Strauss no programa de sua visita ao Brasil com a Filarmônica de Viena. Desta fase são, também, a Festa Dionísica (1923), um poema sinfônico, e Momus, poema humorístico.

                    Ao regressar ao Brasil em 1929, pelos conselhos e estímulos de Mário de Andrade que, na época, desenvolvia em São Paulo uma campanha contra a influência da música italiana, chamando os compositores brasileiros à consciência de sua missão de artistas nacionais, Mignone envereda por uma música de caráter nacionalista sendo a “Primeira Fantasia Brasileira para Piano e Orquestra”, a primeira de suas obras onde se podem notar indícios da mudança de rumo do compositor, seguida da “Segunda Fantasia Brasileira”, também para piano e orquestra.
                    Abandonou a fase nacionalista no início da década de 1960, passando a compor obras atonais. Excetuando-se as suas músicas sacras e composições para violão, manteve, até 1970, este novo estilo, retornando, então, à composição de música tonal.
                   A obra de Mignone apresenta diversas influências: Inicialmente a influência da música italiana. Mais tarde, ainda vivendo na Europa, inspirou-se em temas brasileiros. Bem perceptível, é a influência africana que se manifesta pela utilização de caracteres e ritmos, e pelas diversas composições com texto iorubá. Outra grande influência é a da música popular, na qual foi buscar inspiração para as valsas de violão e de "pianeiros", as Valsas de Esquina, serestas e chorinhos caipiras. É, por isso, considerado uma das maiores expressões do nacionalismo musical brasileiro de séc. XX. Em toda a sua obra, foram abordados os gêneros orquestral, instrumental, camerístico, dramático e sacro.
                  Considerado um dos três maiores compositores brasileiros, juntamente com Villa-Lobos e Lorenzo Fernandez, Mignone dá testemunho de uma fecunda evolução em sua obra (cerca de 700 peças) que tem os seus momentos culminantes nos bailados “Maracatu de Chico Rei” (1934), Leilão (1942), nas peças sinfônicas Batucajé e Babaloxá , Iara, nas “Impressões Sinfônicas” intituladas Espantalho (inspiradas em dois quadros de Portinari), no poema sinfônico “Festas das Igrejas”, nos “Quadros Amazônicos”, nas “Lendas Sertanejas”, nos “6 Estudos Transcendentes” nas “12 Valsas de Esquina” (cada uma composta sobre um dos 12 tons menores), no “Sexteto” para piano, flauta, oboé, clarinete, trompa e fagote e em “Urutau, o Pássaro Fantástico” para piano a quatro mãos, flautim, flauta, clarinete e fagote
                   Francisco Mignone fundou o Conservatório Brasileiro de Música, do qual foi, também, professor. Em 1933 mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de ocupar a cátedra de regência do Instituto Nacional de Música (atual Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro), função que exerceu entre 1934 e 1967, tendo sido efetivado, através de concurso em 1939. Foi, também, membro da Academia Nacional de Música.
Morreu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1986, aos 88 anos.
Maracatu de Chico Rei -Vídeo!


artigo enviado por Cel Costa Pinto