Audição e Canto


                           “É do poder de se ouvir que nasce a faculdade de escutar.
                            E do poder de se escutar que nasce a faculdade de falar”.

                                                                                          Alfred Tomatis




                  Nas relações pessoais, entre chefia e funcionários, como também com o público, ao abordamos um indivíduo, a simpatia e receptividade dependerão muito da forma de abordagem utilizada.
                 Muitas vezes não pensamos que o tom de voz tem especial significado no meio desta abordagem. “Como será que sou ouvido ?  Como estou respirando? Como atuo nas pessoas com a minha maneira de respirar e falar? " São perguntas que muitas vezes não são feitas e muitas vezes não compreendemos as reações de pessoas ao nosso redor.
                 Os elementos da música, como o som e o ritmo,  são tão velhos como o homem, até porque já vivem dentro dele próprio, nos batimentos cardíacos, na respiração e na voz que produz. Para elucidar melhor nos fala o musicoterapeuta Milleco Filho:
   "Quando o homem se percebe como um instrumento, como um corpo sonoro, e descobre que estes sons podem ser organizados, nasce a música. Começa ele, então, a manejá-los, combiná-los, convertendo-os em matéria nova, em um fantástico veículo expressivo." (MILLECO FILHO, 2001, p.5)
                Os elementos sonoro-ritmos-musicais causam efeitos nos seres humanos e já desde a vida intra-uterina, estes sons universais são responsáveis pela formação da identidade sonoro-musical de cada indivíduo. Como afirma Von Baranow sobre esta abordagem:
   "Cada indivíduo tem sua identidade sonoro-musical que é formada de modo diferenciado em cada um.  Nessa formação estão englobados os sons universais de todo ser humano (como por exemplo:  o grito e o choro, sons da natureza), a carga cultural que ele carrega, o grupo onde vive, as oscilações do cotidiano e o modo como ele sente as diferentes emoções desde a gestação, provenientes de suas influências sonoras." (VON BARANOW, 1999, p.25)

              Esta identidade sonora é mostrada através da expressão corporal, no ato de tocar um instrumento ou na expressão da voz. Estas manifestações são consideradas de “produção sonora” e dizem respeito aos conteúdos emocionais armazenados e manifestados. Não resta dúvida que o canto é um instrumento poderoso no processo terapêutico, por ser um veículo para a auto-expressão emocional e também para a percepção interna do indivíduo. Segundo o musicoterapeuta Ruud:
   "O homem que se esquiva de conflitos inconscientes e emoções dolorosas tem agora permissão para expressar esses conflitos e emoções, e, com a ajuda de uma atividade artística ele utiliza a música como  um canal expressivo através do qual pode descarregar a pressão dessas emoções sufocantes e dolorosas." (RUUD, 1990, p.43)
                Metamorfoseando a audição podemos dissolver tensões nos sistemas muscular e respiratório, despoluindo o sistema auditivo-fonador
               Reagimos com muita sensibilidade também às diferentes qualidades vocais. A audição vai mais além, quando consideramos que, num diálogo, o verdadeiro escutar significa vivenciar o eu do outro, como ato da vontade e despertando a consciência.
                Não podemos deixar de considerar os efeitos dos elementos sensoriais da fala sobre o ouvinte. A fala, assim também como no canto, não só estimula o processo auditivo, mas também provoca um movimento próprio percebido pela laringe. “Quando escutamos uma pessoa que fala, imitamos com nossa própria laringe, em forma muda, os movimentos da laringe de quem fala”, afirma Zimmermann (1998,p31)  que também afirma que a nossa respiração reage diante do interlocutor.
               Ainda sobre a respiração é importante sinalizar que, dentre todas as relações do homem para com o mundo ambiente a mais importante é a respiração. Pela respiração colhemos e interiorizamos em nós uma parte da natureza.
               O ar é um representante do mundo. A atmosfera é portadora da alma da terra. Fazemos todo o ciclo da vida com o ato de respirar, ou seja, a cada movimento o indivíduo inspira e renasce. E a cada expiração ele morre. O bebê chora quando inspira, quando se dá a entrada do corpo anímico do divino: é o espiritual entrando na matéria. Este primeiro sopro, o que realmente merece o nome de respiração, só começa depois que o homem deixa o ventre materno.
               Essa respiração é de suma importância para a entidade humana, pois já abrange todo o sistema trimembrado do homem físico, ou seja, o pensar, o sentir e o querer, representados pelos sistemas neuro-sensorial, o rítmico (circulação sanguínea, batimentos cardíacos e pulmão) e o metabólico-motor (membros utilizados na ação,movimentos de peristalse, etc).
               Muitas empresas vem oferecendo atividades artísticas aos seus funcionários, tendo em vista os benefícios em todos os sentidos e, principalmente na melhora da qualidade de vida, conseqüentemente na melhora da qualidade da saúde e seus relacionamentos:

                    •    considerando que a música vive dentro do homem e grita pela necessidade de se expressar;

                    •    considerando que a respiração é o processo mediador entre o sistema neuro-sensorial e o o metabólico-motor;

                   •    considerando que o canto se faz na expiração e, portanto, no relaxamento;

                   •    considerando que ao trabalhar a voz o indivíduo amplia a sua capacidade de ouvir e compreender melhor o mundo ao seu redor;

                   •    considerando que, ao desenvolver uma capacidade auditiva mais refinada e uma melhor qualidade respiratória o homem contribui para melhor qualidade de relacionamento com o público, de forma geral, e melhor qualidade de vida.
              Empresas reconhecidas apresentam como traço comum a utilização de uma nova tendência. Para as organizações crescerem e se desenvolverem é necessário contar com líderes de competência mais social e humano do que técnico, que levem as pessoas individualmente e em grupo a tornarem-se auto-motivadas, conscientes e identificadas com os objetivos das organizações as quais pertencem.
                Faz-se necessária a utilização de novas ferramentas e novos conceitos que integrem as individualidades humanas e organização como entidades coletivas e vivas. A música e o canto apóiam e desenvolvem processos de mudanças e de relações no ambiente de trabalho em grupos de profissionais, envolvendo a música enquanto arte, ciência e processo interpessoal, além de favorecer a auto - estima, a redução de stress no trabalho e a organização do ritmo interno e externo, favorecendo a otimização do tempo presente.

BIBLIOGRAFIA :

COSTA, Clarice Moura. O despertar para o outro: musicoterapia. São Paulo: Sumus, 1989.127 p.
MILLECCO FILHO, Luís Antônio, BRANDÃO, Maria Regina Esmeraldo e MILLECO, Ronaldo Pomponét. É preciso cantar: musicoterapia, cantos e canções. Rio de Janeiro: Enelivros, 2001. 136 p
RUUD, Even. Música e saúde. Tradução: Vera Bloch Wrobel, Glória Paschoal de Camargo, Miriam Goldfeder. São Paulo: Summus, 1991. 173 p.
VON BARANOW, Ana Léa Maranhão. Musicoterapia: uma visão geral. Rio de Janeiro: Enelivros, 199. 96p.
ZIMMERMANN, Heinz. Hablar, escuchar, comprender. Tradução de Elisabeth Rohner. Buenos Aires: Epidauro, 1998. 96 p.
( por Francisca Cavalcante )