As origens da Viola Caipira


Como já falei anteriormente sobre a rabeca, agora vamos a um artigo sobre a origem da viola caipira.
                                                                       Marcos Cavalcante

Evidentemente o “embrião” da atual viola caipira já vinha se formando ao longo de alguns séculos durante a Idade Média. Particularmente em virtude da dominação mourisca de boa parte da Espanha por aproximadamente 800 anos. Ela surgiu da influência árabe que vem do Al-úd (está é a origem da palavra alaúde) que, naquele idioma significa “a madeira”.
O Alaúde foi adotado quando seu antecessor - um instrumento rudimentar feito à base de couro e meia cabaça - passou a ser produzido com madeira.
Luís Soler menciona no livro “Origens Árabes no Folclore do Sertão Brasileiro” (1a. Edição - 1995, Editora da UFSC) que:
“O alaúde árabe, cultivado e difundido através de séculos e terras, na medida em que foi enriquecendo e enobrecendo seu formato e sua sonoridade, passou a incentivar parecidas melhoras em seus rudimentares congêneres europeus, os descendentes da fidula. Suas 5 ou 6 cordas duplicadas, correspondendo a tantas outras afinações básicas, seu sistema de braço provido de trastes, sua abertura circular trabalhada com um pequeno rosetão, sua caixa de cravelhas, a própria afinação das cordas, fora tantas outras características fielmente copiadas em terras cristãs. A vihuela hispânica, sobretudo, copiou muito do alaúde, se bem que ficou divergindo do mesmo em alguns aspectos de forma, tradicionais na viola, aos quais não quis renunciar”...
A viola, ou “vihuela” como era chamada em terras galaico-portuguesas, distingue-se do alaúde apenas no formato da caixa: em lugar do fundo bojudo, de “meia pêra”, ela apresenta dois tampos planos, um inferior e outro superior, interligados por altas ilhargas. Estes tampos além do mais, não têm forma oval, como acontece com o alaúde, senão apresentam um estreitamento central (uma cintura).
Esta geração de violas já perfeitamente definido e muito popular em Portugal na era renascentista é a que foi trazida para o Brasil pelos jesuítas e colonos portugueses na época da colonização. Nesta época - séculos XV e XVI - a viola era o principal instrumentomusical, largamente utilizados em festas e romarias conforme relatos da época.
Segundo Luis Soler, a Viola tem este nome porque deriva do termo “fidula”, diminutivo de “fides” que era um antigo tipo de lira greco-romana de cordas pulsadas, ou melhor, um instrumento com caixa de ressonância de variadas formas, provido de cordas a serem exclusivamente pulsadas, seja com dedos, seja com “puas” ou “plectros”.
Em cada região de Portugal  existiam violas nos quais apresentavam variações no que tange à sua anatomia e ao número de cordas e afinações. Podemos mencionar os seguintes tipos de violas: Viola beiroa (ou bandurra), Viola campaniça (de Alentejana), Viola amarantina (ou de dois corações), Viola braguesa (ou minhota), Viola toeira (de Coimbra).
No Brasil, a princípio a viola manteve sua estrutura básica quanto à sua construção, dimensões e estilo. Das violas fabricadas por artesãos brasileiros, as que se tornaram mais famosas no final do século XIX e início do século XX, foram as violas de Queluz.
Foram fabricadas no estado de Minas Gerais, na antiga cidade chamada Queluz, atual cidade chamada Conselheiro Lafaiete. Esta viola seguia o modelo da antiga viola toeira, de Portugal.
Com a produção em série de violas pelas primeiras fábricas de instrumentos musicais do início do século XX, fez reduzir o custos dos destas violas “seriadas” ocasionando assim, o declínio dos artesãos e de suas violas artesanais.
As primeiras fábricas se instalaram em São Paulo e trouxeram também algumas evoluções nas técnicas de fabricação e construção que foram diferenciando a viola ainda mais, dos modelos tradicionais trazidos de Portugal.
As principais modificações foram, como por exemplo: a escala do braço ressaltada sobre o tampo (alcançando a boca no bojo), o número de trastes até o bojo passou de dez para doze e as cravelhas que eram tarraxas de madeira foram substituídas por tarraxas metálicas.
No decorrer dos anos a viola tornou-se um instrumento musical típico do interior de vários estados brasileiros nos quais é utilizada ainda hoje em festejos populares como a Folia de Reis, Festa do Divino, entre outras. Nas variadas regiões do Brasil podemos encontrar diferentes maneiras de tocar a viola, seja pela afinação ou por ritmos, pois estas variações são decorrentes dos costumes de cada região, que são passados de um violeiro para outro.
Portanto, a nossa querida viola caipira é um instrumento histórico, nasceu na Europa e se “naturalizou” brasileira e ouvi-la, é ouvir as profundezas dos sertões brasileiros, é ouvir o badalo do carrilhão da fazenda, o trenzinho maria-fumaça, que somente quem é da roça ou quem já passou por lá pode traduzir estes significados.
Tocá-la é um privilégio, porque transporta aos violeiros e ouvintes àqueles brasis de quando este instrumento era “a televisão” do caipira, do caboclo sentado na soleira do casebre de pau-a-pique ou então nas noites estreladas que na companhia do pito de palha e da cachacinha, Não há ninguém, seja da cidade ou do campo que resista aos seus encantos, principalmente aqueles que não a conhecem, quando são apresentados a ela.