Giovanni Artusi: O Monge Bolonhês e suas Controvérsias Musicais do Século XVI

 Giovanni Artusi ( 1540 - 1613 ), musicólogo e compositor italiano, destacou-se como teórico e polemista no cenário musical do século XVI. Seu legado é marcado pela defesa fervorosa do contraponto tradicional, em contraposição às práticas composicionais e de performance modernas de sua época que prefigurou o barroco musical.

Giovanni Artusi iniciou sua jornada musical estudando com Maria Gioseffo Zarlino, uma figura proeminente conhecida por codificar o contraponto do século XVI. Zarlino moldou a compreensão de Artusi sobre a teoria musical e o contraponto, estabelecendo as bases para suas futuras convicções e controvérsias.

Giovanni Artusi emergiu como um defensor ardente do contraponto tradicional, opondo-se vigorosamente às práticas inovadoras de composição e performance que surgiam em sua época. Suas críticas não apenas abordavam as mudanças nas abordagens musicais, mas também lançavam luz sobre as obras de seus contemporâneos, em particular, Ercole Bottrigari e Claudio Monteverdi.

Uma das controvérsias mais notáveis de Artusi foi com Ercole Bottrigari, outro teórico musical da época. Artusi criticou as práticas de Bottrigari, defendendo a tradição contrapontística. Esses debates contribuíram para a polarização das opiniões musicais na época, destacando a tensão entre a tradição e a inovação.

Artusi também travou uma batalha intelectual com o renomado compositor Claudio Monteverdi. Suas críticas às licenças contrapontísticas presentes nos madrigais de Monteverdi abriram um debate fundamental que culminou na formulação da "segunda prática" por Monteverdi. Esta abordagem inovadora buscava uma expressão mais livre e emotiva na música, contrastando com as restrições da primeira prática.
A expressão "segunda prática" refere-se a uma abordagem inovadora na música do final do Renascimento e início do Barroco, especialmente associada ao compositor Claudio Monteverdi.
A "segunda prática" representou uma mudança significativa em relação à "primeira prática" ou "prima pratica", que era caracterizada por regras rígidas de contraponto, seguindo os princípios estabelecidos por teóricos como Gioseffo Zarlino.
Claudio Monteverdi, um dos principais expoentes da "segunda prática", argumentava que a música deveria servir à expressão emocional e ao texto lírico. Isso contrastava com a abordagem mais restritiva da "primeira prática", que priorizava a estrutura formal e as regras contrapontísticas.
A "segunda prática" também  permitia o uso mais liberal de dissonâncias, desde que estivessem em consonância com a expressão emocional da peça. Monteverdi defendia que as dissonâncias podiam ser usadas para transmitir paixão e drama.
Uma característica distintiva da "segunda prática" era a ênfase na clareza da palavra e do texto. Compositores buscavam expressar as emoções contidas nas palavras, utilizando a música como um veículo mais direto para a transmissão do significado das letras.
Ao contrário da "primeira prática", que seguia estritamente as regras harmônicas, a "segunda prática" permitia maior flexibilidade na harmonia, permitindo acordes mais expressivos e progressões menos convencionais.
A "segunda prática" também viu o surgimento de novos gêneros musicais, como o madrigal solo e a ópera, nos quais a expressividade emocional era uma preocupação central.
A controvérsia desencadeada por Artusi teve um impacto duradouro no desenvolvimento da música ocidental. Sua defesa apaixonada do contraponto tradicional e suas disputas com Bottrigari e Monteverdi influenciaram o curso da teoria musical e moldaram a evolução da prática composicional nos séculos seguintes.
A "segunda prática" musical representou uma revolução na abordagem à composição musical, dando prioridade à expressividade emocional e à comunicação direta do texto. Claudio Monteverdi desempenhou um papel crucial na promoção desses ideais :Liberação das Regras Rígidas - Expressividade Emocional - Uso de Dissonâncias Controladas - Ênfase na Palavra, no Texto e  Flexibilidade na Harmonia .

Giovanni Artusia cabou por deixar um legado significativo como teórico e polemista musical. Suas disputas acaloradas com Ercole Bottrigari e Claudio Monteverdi destacaram a tensão entre a tradição e a inovação no século XVI, contribuindo para a definição da "segunda prática" musical.
Seu papel nas controvérsias musicais da época continua a ser uma parte crucial da história da música .