O Arco dos Intrumentos de Cordas

Literalmente, o arco dos instrumentos de cordas se assemelhava ao seu homônimo, peça de arma utilizada para arremessar flechas: vareta curvada em forma de meia lua, em cujas pontas se atava algum tipo de corda ou cerda retorcida, mais tarde substituída por crina animal. Era com artefato similar que o músico da antiguidade através do atrito com a corda produzia o som.
Na trajetória de sua evolução, o arco sofreu incríveis modificações: das grandes curvaturas côncavas, passou por uma silhueta quase retilínea, até a incorporação da forma atual, convexa.
Foi, já no século XIV, época em que foi introduzido na cultura européia o LIUTO - do Àrabe El Oud -trazido pelos mouros durante a ocupação da Espanha, com a necessidade de construção e reparo do instrumento ( originando o Alaúde)  , que surgiu a figura do Liutaio- ou Luthier em francês.
Paralelamente à evolução dos instrumentos de cordas, o arco, peça fundamental à sua execução, foi objeto de transformação equivalente.
Foi na França, já no final do século XVIII, que o grande -archetier ou archetaio- fabricante de arcos François Tourte fez uma modificação que revolucionou a técnica de todos os instrumentos de cordas : por volta de 1700 ele vergou a madeira do arco em sentido contrário, convexamente, com a barriga da curva em direção à crina. A vareta foi, assim, dotada de maior tensão e flexibilidade. Ele também fixou dimensões ideais para o arco, que no violino variam de 74 e 75 cm de comprimento, com o ponto de equilíbrio (fiel) a 19 cm do talão. Foi também responsável, originalmente, por experiências que levaram à escolha da madeira ideal para o fabrico do arco : o pau-brasil, também conhecido como pau-rosado ou pernambuco.
A madeira de pau-brasil (Caesalpinia echinata) é extensivamente procurada no exterior, sendo considerada internacionalmente a única que reúne características ideais de ressonância, densidade, durabilidade, beleza, além da extensão da curvatura, do peso, da espessura e de preciosas qualidades tonais, para a confecção dos melhores arcos de instrumentos de corda.
O grande violinista Giuseppe Tartini foi o principal idealizador do parafuso de ajuste do talão, que veio possibilitar o controle da tensão da crina - mecanismo este introduzido por Tourte. Antes, era com o dedo mínimo da mão direita que as cerdas dos arcos dos Violones, por exemplo, eram puxadas para baixo, aumentando ou diminuindo-lhes a tensão. Por esta razão surgiu a maneira peculiar de se empunhar o arco, por baixo do talão (também conhecida como underhand), entre os instrumentos da família da Viola da Gamba, cuja adaptação para contrabaixo ficou conhecida como Bolonhesa, ou à Dragonetti.
A partir dessas transformações , o arco dos instrumentos de cordas viu suas faculdades, enormemente, ampliadas, e as novas descobertas induziram os intérpretes à experimentar um amplo repertorio de sons.