O Choro Através do Tempo

Surgido, provavelmente, em torno da década de 1870, o choro era, então, uma forma abrasileirada dos nossos músicos executarem
os ritmos europeus de dança de salão (xote, valsa e, principalmente, a polca) junto com os africanos batuque e lundu já incorporados à cultura brasileira, utilizando instrumentos de origem européia que, assim como os ritmos de dança de salão,chegaram ao Brasil com a vinda da Família Real e a corte portuguesa no início do sec. XIX.
Embora não se possa determinar com exatidão, uma data específica para o surgimento de qualquer gênero musical, tem-se o final do sec. XIX e princípio do sec. XX como a época em que o choro se firmou como tal, considerando-se o flautista e compositor Joaquim Antonio da Silva Callado (1848-1880, professor da cadeira de flauta do Conservatório Imperial), como  o “Pai ou Patriarca do Choro”. Callado criou, em torno de 1870, o conjunto conhecido como “O Choro do Callado”, composto de 02 violões, 01 cavaquinho e a flauta. Logo em seguida, surgiram outros conjuntos com essa mesma formação.
Como seguidores do flautista Callado, podemos citar Henrique Alves de Mesquita (1830–1906, compositor e trompetista), Viriato Figueira da Silva (1851-1883, compositor, flautista e saxofonista, aluno de Callado), Juca Kallut (1858-1922, compositor, instrumentista de oficleide e flauta), Sátiro Bilhar (1860-1927, compositor, violonista e cantor), Anacleto de Medeiros (1866-1907, instrumentista de sopro, principalmente de saxofone), Irineu Batina (1873-1916, trombonista), Quincas Laranjeiras (1873-1935, violonista), Patápio Silva (1880-1907, compositor e flautista, considerado o sucessor de Callado) e João Pernambuco (1883-1947, violonista).
Naquela época, a forma de tocar exigia do músico, muita técnica pleno domínio instrumental, virtuosismo e capacidade de improvisação.
Muito pouca transformação, sofreu o choro através do tempo e nenhuma o afetou estruturalmente. A principal (registrada em disco) se refere à improvisação. No “Choro Callado” todos os instrumentos da formação improvisavam alternadamente, mas, a partir de Patápio Silva, cuja flauta é ouvida no primeiro choro registrado fonograficamente, prevalece, somente, um solista, seja qual for o instrumento, secundado pelos demais. Outra transformação se refere à inclusão de novos instrumentos ao choro. Primeiramente, outros instrumentos de sopro (clarinete, flautim e oficleide), e de cordas (bandolim).
Oficleide

Depois, foi a vez do piano. Através desse último e com músicos de formação clássica e condição social diferenciada dos antigos chorões, o choro foi introduzido nos salões das famílias abastadas. Esses compositores/pianistas (ou "pianeiros" como eram chamados) que levaram o choro para o seu instrumento são responsáveis, certamente, pela divulgação e apreciação desse gênero musical brasileiro. Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Zequinha de Abreu estão entre os nomes do choro pianístico.
Considera-se como primeiro choro (originado da polca), “Flor Amorosa” composição de Joaquim Callado com letra de Catulo da Paixão Cearense.  Ouvir esse choro com solo da flauta de Altamiro Carrilho




E se quiser ouvir na voz de Maria Marta



Muito se tem para falar, ainda, sobre o choro, tão atual até hoje, suas diversas formações instrumentais e seus famosos chorões do sec. XX. Isso só será possível num outro artigo, num outro dia.


         Enviada por Cel Costa Pinto